VISÕES
DA MINHA MORTE
Dama negra, por
que bates na porta?
Vieste buscar
minha alma que
jaz morta..
Entre… estou no
meu leito agonizando…
Chamando-te por
horas e mais horas…
Suplicando-te nas
últimas horas
Para partir com os olhos fechando;
Podes entrar no
meu quarto assim dama…
Vestida no negror
que te dá fama;
Estou de cama com
terminal doença;
Respiro ofegante o
teu frio ar morte…
Sinto-te aqui
comigo doce morte…
Não temerei jamais
tua presença;
Quando entraste no
meu quarto sozinha…
Vi o medo na minha
alma tristinha;
Solucei os meus
ais quase infinitos…
Abri meus braços
lânguidos sorrindo…
E vi-te ó morte ao
meu lado sorrindo…
E vendo-te assim eu
sorri aos gritos;
Estiveste comigo
na triste hora…
Na hora que
levaste a alma
minha embora;
Lágrimas derramei
dos olhos meus…
Lágrimas que
secaste do meu rosto…
Puras lágrimas que
em meu triste rosto
Rolaram com os
tantos sonhos… Deus;
Estarrecido olhei
a minha volta;
Nenhum anjo faria
a minha escolta…
Olhava para o lado
e ela sorria…
Arrebatado em
minha cama e só,
Eu sentia que não
estava só…
Do meu lado ela
não… ela não saía;
Ela jamais falava
ao meu ouvido;
Murmurava de longe…
“meu querido”…
Vim levar-te para
o reino dos céus…
Não temas minha
fúnebre presença…
Não sinta-se mal
na minha presença;
Só vim cobrir-te
com meus brancos véus;
E nas visões
fúnebres que eu tinha…
Eu via corvos na
janela minha…
Aves horrendas de
frios sarcasmos;
As vi fitando o
meu corpo finito…
Afiando suas
garras de finito…
Como se fossem gélidos espasmos;
Uma voz trêmula
erguia-se em mim;
Murmurava palavras
num esplim
Profundo e
derradeiro de mistérios
Não revelados a alma sem pilares…
Gemendo nos
altares sem pilares…
As dores de
profundos sacrilégios;
E quando a noite,
no total negrume…
Ouço o barulho que
ninguém assume;
Sinto ela ao meu
redor fazendo adejos…
A cortina sacode
lentamente…
Os pêlos do meu
braço lentamente
Arrepiam, e morrem
meus ansejos;
E quando por vez
os meus olhos nus
Já não virem mais
a límpida luz;
E quando frio o
meu corpo ficar…
Deixem entrar as
aves funerárias…
Deixem elas
comerem funerárias
Sobras dum corpo a
se desintegrar;
E quando for
ouvido o último som
Enquanto meu rosto
ainda tiver tom
Corado… enquanto
minha lucidez
Ainda se manter
forte e preservada…
Guardem a última
imagem preservada
Do meu ser que
partiu de uma vez;
As fibras
sustentadas na minha alma
Vão se rompendo
uma à uma com calma…
A endecha que ouço
é fúnebre e fatal…
De uma lamúria
insigne profunda…
Regozijo da minha alma profunda
Vendo escadas e
torres de cristal;
Visões
desfiguradas no negror
Do meu quarto
cheirando todo a flor…
Longos suspiros,
últimos suspiros…
Sensação de
dormência penitente…
De uma lágrima
doce e penitente
Cair dos meus
olhos mórbidos aos giros;
Os meus sonhos de
outrora são defuntos…
Vão comigo descer,
todinhos juntos;
Hão de chorar as flores que eu colhia…
Todas murchando
nos vasos com água…
Pétalas caindo
dentro da turva água
Do vaso que a mão
minha outrora erguia;
E nas palavras que
eu não mais dizia…
Por ver o vulto da
morte sombria
Ao meu lado aqui
no quarto gelado…
Eu previa e sentia
que era o fim…
Que os meus dias
teriam por vez fim…
Que eu fecharia os
olhos meus calado;
Sentindo no peito
as fracas batidas…
Não mais machucam
as minhas feridas;
Minha tristeza já
é morta em mim;
Minhas lágrimas
são gotas douradas…
São sonhos lindos
nas noites douradas…
São perseidas
tombadas no sem fim;
Os que amei nesta
vida retumbante…
Como os encontro em um sonho distante?
Onde estão? Estão
todos já dispersos…
Sucumbiram lá nos
frios caixões…
Viraram cinzas nos
negros caixões…
Pó cósmico nos
doces universos;
Metrificada